domingo, 22 de agosto de 2010

Qual o limite ético da televisão?


Nas últimas décadas vem se intensificando a abordagem dos meios multimídias como fonte de conhecimento no ambiente escolar formal para o processo de ensino e aprendizagem.
A corrente que defende o uso das novas tecnologias na educação embute no seu discurso que juntamente com a inserção das mídias em sala de aula é necessário desenvolver o senso crítico dos aprendizes tanto para análise como para apreciação dos conteúdos veiculados a elas, e que o processo da mídia-educação só se completa quando a mídia deixa de ser mero mecanismo de apoio para tornar-se o próprio objeto de estudo.
Inserido neste pensamento crítico-reflexivo sobre a mídia e sobre o seu poder de alcance o filme “O Quarto Poder”, do diretor Costa Gravas, em consonância com o documentário “Muito Além do Cidadão Kane”, do diretor Simon Hartog, se constituem fontes de conteúdo complexo e abrangente sobre a influência sócio-política da televisão, como veículo formador de opinião e de enquadramento de informações e notícias por via única e condizentes com os interesses da empresa televisiva.
O longa-metragem protagonizado por Dustin Hoffman (Max Brackett) e por John Travolta (Sam Baily) tem como enredo e foco de estudo o ramo jornalístico sensacionalista, que sobre qualquer pretexto ultrapassa os limites éticos da área da comunicação com o intuito de elevar os índices de audiência. Nisso, o ser humano torna-se inferior à notícia, e tudo que seduza os telespectadores é usado como informação, segundo o enquadramento e desejos dos jornalistas. E como podemos averiguar no filme, o incorreto enquadramento dado ao fato inicial que desenvolve toda a trama culminou em tragédia com a morte do personagem que durante o filme foi se deixando envolver e se influenciar pela visão de um repórter que almejava à fama.
Embasado num pensamento mais político e social da notícia o documentário produzido pela BBC (British Broadcasting Corporation) de Londres, estreado em 1993, e, a partir de então, proibido judicialmente de ser transmitido em solos brasileiros conduz com grande poder de persuasão e convencimento uma intensa denúncia sobre o poder da Rede Globo de Televisão nos meios políticos, sociais e culturais do Brasil.
Segundo o documentário, a Globo, conduzida por Roberto Marinho, manipulou debates políticos, interferindo nas eleições de 1989; apoiou a ditadura militar e as censuras artísticas; criou ídolos de qualidades artísticas questionáveis, dentre tantas outras influências.
Desta forma, tendo essas duas obras como referência, não é difícil concluir que a televisão exerce em significativo poder social e tem potencialidade infinita como veiculadora de informações e de saber, o que a qualifica como uma importante ferramenta de ensino.
No entanto, como a televisão, embora seja concessão pública e que por lei constitucional devesse dar preferência na sua grade a programas com fins educacionais e sociais, na prática isso não se confirma, visto os interesses comerciais e econômicos das emissoras, muitas vezes contraditórios aos preceitos da imparcialidade e da ética, conceitos estes fundamentais para a produção e para a divulgação da informação conduzida de forma séria e transparente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário