domingo, 5 de setembro de 2010

RESENHA CRÍTICA - SHOW DE TRUMAN


É incontestável a capacidade da televisão como veículo agregador e difusor de informações e conhecimentos, porém esta mesma capacidade, a princípio positiva, torna-se negativa quando as informações e os conhecimentos tomam rumos meramente comerciais, de controle e influência social.
O longametragem “O Show de Truman – O Show da Vida”, dirigido por Peter Weir, conta a história de um vendedor de seguros que desde o seu nascimento tem sua vida transmitida 24 horas por dia num reality show televisivo. Sem saber, tudo que o cerca é uma criação de estúdio cinematográfico, assim a cidade onde mora é cenário e as pessoas com quem convive são atores e figurantes.
Estas informações já são suficientes para a constatação de que uns dos questionamentos propostos pelo filme se referem aos aspectos éticos da comunicação e a superioridade da indústria cultural e da sociedade do consumo sobre a individualidade e a liberdade humana.
Porém a reflexão sobre a complexidade do filme ultrapassa a barreira das relações e comportamentos humanos alcançando o valor do sagrado quando o poder de controle e influência da televisão compara-se apenas ao poder divido da onipresença, onipotência e onisciência.
A vida torna-se inferiorizada como material para estudo e reflexões de desenvolvimento humano e configura-se como objeto mercadológico superior que pode ser manipulado, direcionado e explorado conforme as necessidades econômicas capitalistas.
Nisso, como cúmplices da prisão do protagonista, os telespectadores são induzidos a apreciar e participar do espetáculo da mídia, que lucra não apenas com a consagração do seu poder, mas também com o marketing vinculado à encenação e com a carência emocional e sentimental da audiência.
No final, como o prisioneiro do Mito da Caverna de Platão que na busca pela verdade descobre que tudo o que imaginava como verdadeiro não passava de ilusão, reflexos e sombras Truman procura por respostas e defrontando-se com a maior resposta da sua vida: continuar uma estrela num mundo fictício ou sair e levar uma vida comum, ambas ilusórias, optou pela segunda, e após curvar-se e reverenciar o público renega ao mundo do espetáculo publicitário e parte em busca da sua identidade.

A MODA EM VOGA.



A novela “Ti-Ti-Ti”, remake de um grande sucesso global dos anos 80, atualmente escrita por Maria Adelaide Amaral e dirigida por Jorge Fernando trouxe novamente ao horário das sete um programa leve e de uma comicidade cativante para os aficionados em novelas.
Não fosse o seu aspecto comercial, característica primeira de toda produção novelística, verificado pelos altos índices de audiências, sobretudo das donas de casa e dos outros telespectadores que procuram um programa light para um começo de noite tranqüilo e pelos comerciais de produtos destinados à classe pobre e média baixa, tais como cremes revolucionários, lojas de móveis e eletrodomésticos parcelados em prazos a perder de vista até automóveis populares, a novela configuraria uma visível fonte para complexas discussões sobre o comportamento do homem e mulher pós-modernos.
Conceitos de comportamento que na maioria das vezes passam despercebidos pela audiência hipnotizada pelo riso fácil e pelas situações hilárias proporcionadas pelo enredo da novela.
Nas palavras de Pedrinho Guareschi, citadas no artigo “Aspectos contemporâneos da Educação: televisão, uma interação possível” [1], a vasta quantidade de informação da “era da informação” recebida pelas crianças (e pelos indivíduos em geral) não é filtrada, processada e tão pouco usada devido à falta de associação dessas informações com o processo de ensino e aprendizagem.
No tempo das informações fáceis e rápidas percebidas nas diversas ferramentas modernas de comunicação virtuais e de entretenimentos, como que numa cegueira e surdez intelectuais não enxergamos informações situadas entre os nossos sentidos e a tela da TV, e a Educação peca em não usá-las como material de fomentação de discussões em sala de aula.
No caso da atual novela das sete são vários os conceitos passíveis de estudos didático-pedagógicos: modismo, consumismo, capitalismo, homoerotismo, ética nas relações humanas, tecnologias contemporâneas, tempo, arte, metalinguagem, ficção e realidade e o próprio conceito novela como transmissora, construtora e influenciadora de comportamentos.
É evidente que o discurso defendido pela produção da novela está inserido no discurso comercial e comunicativo da emissora que a produz e a divulga, cabendo a nós telespectadores, de forma crítica e distanciada, identificar as mensagens vinculadas no programa, acatando-as ou negando-as conscientemente.


[1] NUNES, Roseli Pereira; OLIVEIRA, Cláudia Santos de; FELIZOLA, Matheus Pereira Matos; SOARES, Maria José Nascimento. Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE. Revista Iniciacom, Volume 2, nº 1 (2010).